quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Bye bye 2008

Mais um ano que termina. Ah pois é, hoje é dia de 'new year's resolutions', do bacalhau com batatas outra vez (sem batatas para mim please), uma pena que não seja novamente dia de presentes :)))
É altura de reflectirmos no que fizemos mal, de fechar esse ciclo para darmos lugar a um novo ciclo...
É altura para isso e para muito mais, para tudo e mais alguma coisa.
Em 2008 senti-me revoltada, raios partam o Universo que fechou mal o ciclo de 2007...com uma grande perda. E raios me partam a mim que vivi um ano amarrada a essa angustia, com medo de falhanços outra vez, com medo de avançar, de errar, enfim, com medo.
Chamaram-me muitas coisas em 2008, xiiii...cada nome...mas eu não me sinto mal com isso, porque encerro o ano em grande! Declarei-me ao gajo de quem gosto (inédito senhores ouvintes), liguei ao ex marido da amiga de longa data, dei-lhe um arraso daqueles que 'só não chora quem não tem coração' e a verdade é que já aquecem os pés um ao outro de novo...
Chamem-me boca de barulho, chamem-me 'uma casa a arder', digam-me que sou frontal demais, ou de menos, ou o que quiserem. Eu quero lá saber! Aflige-me o olhar triste em alguém e saber que sou eu a causa disso, mas o sorriso de alguém causado por mim...isso enche-me as medidas!
Por isso, caros amigos, ouçam o que tenho a dizer, normalmente nestas coisas eu não falho...
2009 promete, e não é o Sr Presidente da Republica que promete, são as energias do Universo!
Tive este feeling no final de 2005 e disse 'Eduardo, tenho cá pra mim que 2006 vai ser um ano em grande, de mudanças!' -óh se foi. Em Março deixei-o logo a pagar a casa sozinho e sem um lençolzito pra cama (que pena...), mas depois a mudança foi má, muito má. O meu pai ficou doente e lá acabou por me deixar.
Mas 2009 é que é, e não há cá adiamentos à la Fernando Pessoa!
Vai ser, pronto, tenho dito, vai ser MESMO!
Então, um excelente 2009 para todos, e atenção à gripe que anda aí...cuidado com as lareiras ; )


quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Caramba

Afinal porque é que temos tanto medo do amor? Às vezes parece que lidamos com ele, como se fosse um bicho mau, que nos vai morder a qualquer instante. Às vezes fugimos dele como se de um vicio...mas é tão bom estar viciado..
Às vezes não entendo porque é que as palavras não vão de encontro ao meu olhar. Porque é que eu não ouço aquilo que tu me dizes, da forma que dizes.
As palavras não são tudo, aliás, nem são nada. damos-lhes o valor que nos merecem. As acções sim, essas mostram alguma coisa. Se cortamos como uma faca e fazemos sofrer, é porque já sofremos também um dia. Se sorrimos o tempo todo, é porque estamos felizes?? Será...?
Será possivel apagar a mágoa causada por alguém que nos tirou o chão...o ar...o coração...
Será possivel amar mais do que uma vez na vida?
Às vezes olho por cima do meu ombro, e vejo a minha vida, bem lá ao fundo...vejo-te a ti também, ainda aqui muito pertinho. Mas vejo lá no fundo alguém que tenta pegar-te na mão, e puxar-te de mim.
É o rancor. A mágoa que ficou. O ressentimento dos momentos maus.

Eu, simples de palavras e ausente de pensamentos que magoam, só consigo olhar para a frente, e lá ao fundo, vejo a esperança. Custa tanto mas TANTO alimentá-la. É insaciavel, e às vezes parte-me as pernas, e impede-me de andar.
Mas eu sou forte, o meu Pai dizia que eu era a mais forte, a unica menina, a cara dele...a 'filhota' do meu Pai.
Se ele estivesse aqui hoje, tenho a certeza que me diria para não cometer o mesmo erro que ele cometeu. Para não me esconder atrás do medo de ser feliz. Ele, dir-me-ia para atravessar o oceano, dar a volta ao mundo, nem que fosse por um suspiro de felicidade. Sim, ele dir-me ia isso mesmo. Que tudo vale a pena, e que se nos vergarmos no medo, na vergonha, no conformismo de uma vida que não a nossa, então não mereceremos a oportunidade de aqui estar.
E eu já estou na 2ª 'voltinha'.
Não posso, nunca pude, não é justo e nem faz sentido, estar a atrofiar sentimentos, a esganar palavras, a dar o nó na garganta que me faz sofrer, que me tira o fôlego.
Se estou a amar eu não sei. Já tive tempo demais para pensar nisso, mas como 'amar é a eterna inocência e a unica inocência é não pensar' -amar é não pensar.
Por isso se gosto, se amo, se quero, se desejo, não sei. 'Se' é uma palavra muito perigosa, e devemos cuidar bem dela.
Já tenho 'se' demais na minha vida, e estou disposta a não lhe deixar mais margem de manobra. Se faz-me sofrer. O imaginar o intangivel, o não saber onde me perdi, perder de vista o ponto mais alto, o zénite...
Não faz sentido.
Vou continuar a caminhar, o meu caminho, aquele que tracei para mim. Já tropecei muitas vezes, os obstáculos são muitos, mas como 'filhota forte' que sou, não posso desapontar o homem que mais amei. Se....não.
Depois vejo e lido com a consequência do que fiz. 'Mais vale sofrer por ter tentado, do que não saber o que teria acontecido'

''Pedras no caminho? Guardo-as todas, um dia vou construir um castelo.''
(bonita citação que se lê como sendo de Fernando Pessoa, mas para verdadeiros conhecedores da sua escrita, é facil ver que não foi ele que escreveu. Ainda assim, muito bonito)

Lovestories

Se existem verdadeiras histórias de amor, esta foi a maior que vivi. A Familia Kim, que me acolheu de Março de '99 até Setembro de 2000, proporcionou.me 'the time of my life', permitiu-me viagens inesqueciveis, momentos incriveis. Já lá vão quase 9 anos desde que vim embora, mas para sempre, sempre, estarão no meu coração.
Quando cheguei em '99 só existiam duas meninas, a Hannah e a Caroline (as maiores), depois a familia multiplicou-se, agora são 5. A Shelley sempre disse que gostava de ter muitos filhos, que era um sonho seu, e afinal, os sonhos podem tornar-se realidade.
Basta querermos.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

"Conta-se que, uma vez, se reuniram os sentimentos e as qualidades dos homens, num lugar da Terra. Quando o ABORRECIMENTO tinha reclamado pela terceira vez, a LOUCURA, como sempre tão louca, propôs-lhe:- Vamos brincar às escondidas?A INTRIGA levantou a sobrancelha, intrigada, e a CURIOSIDADE, sem poder conter-se, perguntou: «- Escondidas? Como é isso?»- É um jogo - explicou a LOUCURA - em que eu fecho os olhos e começo a contar de um a um milhão enquanto vocês se escondem e, quando eu tiver terminado de contar, o primeiro de vocês que eu encontrar ocupará meu lugar para continuar o jogo. O ENTUSIASMO dançou, seguido pela EUFORIA. A ALEGRIA deu tantos saltos que acabou convencendo a DÚVIDA e até mesmo a APATIA, que nunca se interessava por nada. Mas nem todos quiseram participar: a VERDADE preferiu não se esconder; para quê, se no final todos a encontravam?A SOBERBA opinou que era um jogo muito tonto (no fundo, o que a incomodava era que a ideia não tivesse sido dela) e a COVARDIA preferiu não se arriscar.- Um, dois, três, quatro... - começou a contar a LOUCURA. A primeira a esconder-se foi a PRESSA, que, como sempre, caiu atrás da primeira pedra do caminho. A FÉ subiu ao céu e a INVEJA escondeu-se atrás da sombra do TRIUNFO, que com seu próprio esforço, tinha conseguido subir até à copa da árvore mais alta.A GENEROSIDADE quase não se conseguia esconder, pois cada local que encontrava lhe parecia maravilhoso para algum de seus amigos - se era um lago cristalino, ideal para a BELEZA; se era a copa de uma árvore, perfeito para a TIMIDEZ; se era o voo de uma borboleta, o melhor para a VOLÚPTIA; se era uma rajada de vento, magnífico para a LIBERDADE. E assim, acabou por se esconder num raio de sol.O EGOÍSMO, pelo contrário, encontrou um local muito bom desde o início. Ventilado, cómodo, mas apenas para ele.A MENTIRA escondeu-se no fundo do oceano (mentira, na realidade, escondeu-se atrás do arco-íris), e a PAIXÃO e o DESEJO no centro dos vulcões.O ESQUECIMENTO, não me recordo onde se escondeu, mas isso não é o mais importante.Quando a LOUCURA estava lá em 999.999, o AMOR ainda não havia encontrado um local para se esconder, pois todos já estavam ocupados; até que encontrou um roseiral e, carinhosamente, decidiu esconder-se entre suas flores.- Um milhão - contou a LOUCURA. E começou a busca. A primeira a aparecer foi a PRESSA, apenas a três passos de uma pedra. Depois, escutou-se a FÉ discutindo com Deus, no céu, sobre Zoologia. Sentiu-se vibrar a PAIXÃO e o DESEJO nos vulcões. Por mero acaso, encontrou a INVEJA, e claro, pode deduzir onde estava o TRIUNFO. Ao EGOÍSMO, não teve nem que procurá-lo: ele saiu sozinho, disparado, do seu esconderijo, que na verdade era um ninho de vespas. De tanto caminhar, a LOUCURA sentiu sede e, ao aproximar-se de um lago, descobriu a BELEZA. À DÚVIDA foi mais fácil ainda, pois encontrou-a sentada sobre uma cerca, sem decidir de que lado se esconder.E assim foi encontrando a todos.O TALENTO entre a erva fresca; a ANGÚSTIA numa cova escura; a MENTIRA atrás do arco-íris (mentira, estava no fundo do oceano); e até o ESQUECIMENTO, de quem já se tinham esquecido que estava a brincar às escondidas.Apenas o AMOR não aparecia em nenhum local. A LOUCURA procurou atrás de cada árvore, em baixo de cada rocha do planeta e em cima das montanhas.Quando estava a ponto de dar-se por vencida, encontrou um roseiral. Pegou uma forquilha e começou a mover os ramos, quando, no mesmo instante, se escutou um doloroso grito: os espinhos tinham ferido o AMOR nos olhos. A LOUCURA não sabia o que fazer para se desculpar: chorou, rezou, implorou, pediu perdão e até prometeu ser a guia do AMOR para sempre.

Desde então, desde que pela primeira vez se brincou às escondidas na Terra, o AMOR é cego e a LOUCURA acompanha-o sempre."

Que desilusão..

O ano de 2008 está prestes a terminar. 'São ciclos que se fecham para dar lugar a novos ciclos'. Juro, de coração que eu achei que tu irias ser um ciclo que ia repetir-se, achei que ias ficar na minha vida muito, mas muito mais tempo.
Sim, facilitei, deste-me á vontade para isso. Sim abusei, deste-me a confiança que me faltava. Sim vacilei durante tempo demais, mas a culpa não é minha...como posso eu confiar?
Não consigo, não conseguia, e agora não vou voltar a conseguir.
Raios partam os homens.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

New Year's resolutions 2009


1º Não voltar a negar sentimentos que surgem naturalmente
2º Não tentar esconder sentimentos
3º Não voltar a dizer que 'os homens são todos iguais'
4º Aprender a ouvir e calar 98% das vezes
5º Não fugir do amor..
6º Dizer sempre aquilo que penso (na mesma)
7º Não deixar para o ultimo suspiro, o que devia ter sido dito há meses
8º Aceitar que as pessoas que nos são postas no caminho têm uma razão para cá estar
9º Não fugir delas
10º Ser fiel honesta e verdadeira comigo e com os outros
11º Dizer 'eu gosto muito de ti' seguido de um abraço sempre que me der vontade

Fiz asneira não fiz? Vais crucificar-me por isso?
Não vais dar-nos uma chance?
Ok, eu pago a factura...

Chuif :(

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Diz o meu GRANDE amigo Michael...

The best thing you can do and I can do is to keep improving on who we are and DO NOT "try" to be something for anyone else beside the best that we can be for OURSELVEs - I don't mean to be "selfish", but in a way, we MUST give ourselves everything FIRST, pay attention to ourselves with LOVE and GOOD THOUGHTS and a good ATTITUDE. I KNOW that YOU KNOW what I mean.
Then, when we do this, the correct people for us will NOTICE who we are and they will be ATTRACTED to us like ENERGY... like an electrical current that flows to where it needs to go, naturally, and without extra pushing or "trying" and without forcing anything on anyone.
We make ourselves what we need ourselves to be, what feels best for each of us. The rest will all happen perfectly, like magic. ')

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

This is me....

A nogueira
(A PAIXÃO)

Implacável, é uma pessoa estranha e cheia de contrastes, não é egoísta, agressiva quando preciso, amorosa, nobre, de horizontes amplos, de reacções inesperadas, espontânea, de ambição sem limites, pouco flexível. É uma companhia pouco comum, nem sempre agrada, mas é admirável, comum génio estratégico, muito zelosa e apaixonada. Não se compromete se não conhece.

"As Melhores Mulheres Pertencem Aos Homens Mais Atrevidos " Mulheres são como maçãs em árvores. As melhores estão no topo. Os homens não querem alcançar essas boas, porque eles têm medo de cair e se machucar. Preferem pegar as maçãs podres que ficam no chão, que não são boas como as do topo, mas são fáceis de se conseguir. Assim as maçãs no topo pensam que algo está errado com elas, quando na verdade, ELES estão errados... Elas têm que esperar um pouco para o homem certo chegar, aquele que é valente o bastante para escalar até o topo da árvore. ''

Machado de Assis

domingo, 7 de dezembro de 2008

O que há em mim é sobretudo cansaço

Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,Cansaço...

Álvaro de Campos

Isto é que é amor, o resto não conta para nada.


O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.


Alberto Caeiro

sábado, 6 de dezembro de 2008


Written in the first person, The Catcher in the Rye follows Holden's experiences in New York City in the days following his expulsion from Pencey Prep, a college preparatory school. As Holden shares his experiences, it becomes evident that he is talking from a mental facility where he is being psychoanalyzed.
Holden shares encounters he has had with students and faculty of Pencey, whom he criticizes as being superficial, or as he puts it, "phony." After an altercation with his roommate over a girl, Holden packs up and leaves the school in the middle of the night. He takes a train to New York, but does not want to return to his family's apartment immediately, and instead checks into the derelict Edmont Hotel. There, he spends an evening dancing with three tourist girls and has a clumsy encounter with a prostitute; he sends the woman away without any services having been rendered, although he pays her for her time. She demands more money than was originally agreed upon, and when Holden refuses to pay he receives a second beating in as many nights at the hands of her pimp.
Holden spends a total of two days in the city, characterized largely by drunkenness and loneliness. At one point he ends up at a museum, where he contrasts his life with the statues of Eskimos on display. For as long as he can remember, the statues have been fixed and unchanging. It is clear to the reader, if not to Holden, that the teenager is afraid and nervous about the process of change and growing up. These concerns may largely have stemmed from the death of his brother, Allie. Eventually, he sneaks into his parents' apartment while they are away to visit his younger sister Phoebe, who is nearly the only person with whom he seems to be able to communicate. Holden shares a fantasy he has been thinking about; he pictures himself as the sole guardian of several children playing a game of ball in a huge rye field on the edge of a cliff. His job is to catch the children if they wander close to the brink, to be a "catcher in the rye".
After leaving his parents' apartment, Holden then drops by to see his old English teacher, Mr. Antolini. The comfort he hopes to find from his mentor is upset when he wakes up in the night to find Mr. Antolini petting his head in a way that seems to Holden to be "perverty." Holden leaves, and spends his last afternoon wandering the city. [9]
Holden intends to move out west, and relays these plans to his sister, who decides she wants to go with him. He refuses to take her, instead telling her that he himself will no longer go. Holden then takes Phoebe to a zoo, where he watches her as she rides a carousel. Watching her with both fear and joy, Holden seems to have realized that there can be no "catcher" to protect children's innocence, that they should develop in the harsh world on their own.
Holden never does give a thorough assessment of his prognosis since his hospitalization. His voice in the novel's last few pages indicates that his time recovering has left him calmer and with more perspective, yet he remains lonely and without definite direction.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

O GUARDADOR DE REBANHOS

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...

E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial

Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como um malmequer,
Porque o vejo.
Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...

O Mundo não se fez para pensarmos nele (Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...

(8-3-1914) Alberto Caeiro

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008



Porque é que tive que ser eu a dar-vos as mãos? Porque é que vocês não olham nos olhos um do outro e admitem que se amam?

Porque é que tantas vezes fugimos do amor, como se ele fosse uma doença?

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Poema em linha recta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o
Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó principes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Álvaro de Campos