segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Parabéns Nuno

Olá mano. Se hoje estivesses aqui em casa, neste dia de chuva, o que nem é comum nesta altura do ano, o almoço teria sido o mesmo que foi durante anos a fio. Marisco, e para mim 'outra coisa'. Teria sido dia de abraços, risos, e presentes para ti. Completarias hoje 39 anos. Mas eu sei que estás aqui comigo, connosco...
Viste as rosas vermelhas que a Mãe te levou ontem? No ano passado fui eu. Vamos à vez, e tu sabes, se sabes, que o nosso pensamento está em ti. Todos os dias. Não deve haver um dia só em que não fale contigo. Olha, no Sábado até andamos juntos nos aviões do palácio, lembras-te? O Pai levava-nos sempre, e depois dos 'furos' nas barraquinhas dos chocolates Regina, íamos dar uma voltinha nos aviões. Eu, sempre medricas nestas coisas, queria companhia. Tu gozavas comigo. (em Português de Portugal, entenda-se) Mas eu não levava a mal, porque com as fitas que fazia, conseguia que o Pai viesse comigo, sempre comigo, andar nos aviões. Ele ia sempre agarradinho a mim, e eu, gelada, a tentar olhar para o cimo das árvores, sem notar a distância a que estavam do chão. Quando a voltinha chegava ao fim, já eu tinha perdido o medo, e quase sempre tínhamos direito à segunda voltinha. Havia também os carrinhos de choque. Também aqui, eu ia com o Pai, e tu, sozinho. Andávamos sempre ali aos empurrões, como aliás andamos durante a tua vida inteira. No final, comíamos pipocas juntos, e voltávamos a casa, muitas vezes de mão dada.
Eras o meu herói. Foste o meu ideal durante anos a fio. Quando as minhas colegas de escola ouviam 'you're my heart, you're my soul' -já tu gozavas com aquilo, e cantavas a letra alto e bom som 'YAMAHA...' e rias à gargalhada. Já aí eu ouvia os teus discos de The Smith's; Joy Division e sabia as letras de cor. Ouvia-te explicar o seu significado, o que eram para ti, e a (infelizmente) falares de forma fascinante dos suicídios de alguns dos teus ídolos. Ainda guardo os teus rascunhos, dos teus versos, e exibo-os cheia de orgulho aos que acho dignos de lerem o que escreveste. Não foram muitas pessoas até hoje.
Já pensei em passar aquilo tudo direitinho, e meter num livro, e mostrar o que te passou no coração, na alma, e na mente. Mas não só acho que não tenho a dignidade de o fazer, como acho que poucas pessoas mereciam que partilhasse isso com elas. Desta forma encontro-me só eu contigo. Quando a saudade aperta muito, abro a caixinha de madeira restaurada que o Pai me ofereceu, vasculho uns pedacitos de papel, e faço um género de 'tiro no escuro' e o que me vier à mão, é o que leio naquele momento. Às vezes sinto-te mesmo aqui muito pertinho. Sinto que deitas a cabeça na cama, ao meu lado, no lado que não tem almofada. Talvez porque o meu quarto é hoje o que outrora foi teu. Transformei-o. Dei-lhe cor e luz, e gostava que viesses ver-me de vez em quando. Gostava que estivesses aqui connosco, e visses como, no final de um dia mau, vem sempre um dia melhor. E que apesar das pessoas nos magoarem um dia, podemos sempre, e devemos, perdoar-lhes, e entender que nunca o fizeram com maldade. Gostava que tivesses ficado mais tempo, e que percebesses que esta vida é apenas uma passagem, uma fase de transformação, em que ficamos apenas o tempo suficiente para reparar alguns erros passados. Mas pronto, estou feliz por ti na mesma. Respeito a tua decisão porque sei hoje que ela não partiu de ti. E que tivéssemos nós feito o que quer que fosse, terias partido na mesma. Lamento apenas que tenhas sofrido tanto. Podias ter partido sem dor. E é por ti que o digo. Porque a dor foi unicamente tua. A nossa, apenas de te ver sofrer, e isso custou muito só, unicamente porque te amamos incondicionalmente.
Hoje és um anjo, és o meu anjo, e eu quero que não te esqueças de continuar de mão dada comigo. És o Nuno, o meu Nuno, que sempre esteve e sempre estará comigo. Talvez por isso o teu nome continue presente na minha vida, no meu coração. Talvez assim faça sentido, para mim faz. E sou grata por isso, e mais feliz a cada momento que vivo.
Parabéns mano.

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